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PEDIDO Nº 05 

"TER UM DUPLO NA INFÂNCIA"

“Morei, durante toda a minha vida, em uma cidadezinha do interior de Minas Gerais. Era um hábito comum, naquela época, vestir irmãs de idade próxima como se fossem gêmeas, usando as mesmas roupas e o mesmo penteado. Essa simetria era extremamente valorizada pelos habitantes da pacata cidade e lembro que, durante o recreio da escola, as meninas faziam pequenas competições de desfiles em dupla. Todavia, eu e minha irmã ficávamos sempre de fora da brincadeira. Isto porque minha mãe era um espírito evoluído e, como diziam, havia estudado por demais na cidade grande.

 

Ela, que havia terminado a faculdade de pedagogia em São Paulo e cultivava projetos para uma educação revolucionária, achava este hábito uma estupidez imensa que trazia conseqüências negativas para a construção da individualidade das crianças. Todavia, contraditoriamente, tivemos outras conseqüências negativas pela recusa em adotar os hábitos da tradição local: nossa infância foi permeada de exclusões, éramos rejeitadas pelas demais crianças e não participávamos das atividades da comunidade. Nos tornamos crianças sozinhas e adolescentes rebeldes. 

 

Todavia, já na vida adulta, após o falecimento da minha mãe, nos reconciliamos com a tradição de nossa cidade natal, celebrando estes hábitos não por considerarmos válidos, mas como uma espécie de homenagem a estas pessoas simples que acabaram por se tornar nossas grandes amigas e companheiras de velhice. Portanto, meu pedido de lembrança inventada não é ter tido uma educação menos avançada, mas a de ter participado mais das festividades da cidade apesar do senso crítico herdado de minha mãe.”

 

RELATÓRIO: 

Para fabricar esta lembrança inventada, fotografei as irmãs já adultas usando roupas similares, feitas especialmente para a imagem. Para performar elas mesmas na infância, foram usadas como dublês de lembrança inventada as filhas de uma das irmãs que fez o pedido. O suporte escolhido para as imagens foi uma bolsa da década de 20 comprada em um antiquário, que possuía no seu interior um espelho e dois compartimentos simétricos. A bolsa foi transformada em caixa e as fotografias foram divididas pela metade e dispostas na caixa de forma que o espelhamento e as aberturas permitissem um jogo de similitudes e dessemelhanças. 

 

CERTIFICADO DE AUTENTICAÇÃO:

Certifico, para os devidos fins legais, que a fotografia apresentada é um registro autêntico da situação, real ou imaginária, que representa.

 

Itens:

• Fotografias antigas.

• Bolsa preta da década de 20.

 

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